domingo, 8 de março de 2015

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8 DE MARÇO, DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES

No dia internacional das mulheres, O Coletivo Mandala pública uma coletânea de textos feitos por algumas de suas integrantes e colaboradoras.




Dia Internacional da Mulher


Tatieli Escarllet


Ótimo, chegou o Dia da Mulher, o famoso e bastante discutido oito de março. Vamos dar chocolates para nossas mulheres? Ou vamos parar e pensar nas luta travada por elas todos os dias e principalmente nesta data oficializada pela ONU?
Eu sou a favor de pensar. A escolha desta foi escolhida por dois motivos. Primeiro pela proposta feita pela Clara Zetkin em 8 de março de 1910 durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas da criação do Dia Internacional da Mulher e segundo pelo incêndio no dia 25 de março de 1911 em uma fábrica têxtil em Nova Iorque onde 146 pessoas morreram, sendo 125 mulheres.
Mas não é só nesse dia que é levantado as questões de direito, igualdade, liberdade de expressão e a luta contra a opressão. É uma batalha diária que é travada por todas as mulheres que não suportam mais ser caladas e oprimidas por uma cultura machista. A voz dessas militantes que levantam a bandeira em busca de melhores condições aos poucos sai do armário e o discurso delas é repetido por muitas outras e até por homens que apoiam.
Anônimas estão na rua, mas famosas também estão ai para ajudar cada vez mais mulheres se tornarem empoderadas, ou seja, informadas sobre seus direitos e incentivar a busca por soluções nas opressões sofridas por elas. Patricia Arquette e seu discurso no Oscar, Beyoncé e Walesca Poposuda com suas músicas, Emma Watson na ONU e entre outras midiáticas que estão tornando polêmico esse levante de mulheres cada vez mais motivadas a ir às ruas.
Mas polêmica é bom? Claro. Tudo que é polêmico, pop, contestador e que “causa” é fundamental, já que ganha espaço para debate, provoca curiosidade e corre nas mídias. E o que buscamos é que essa luta ganhe destaque mundial.
Então, o que faremos no oito de março? Chocolate ou aumentar os debates a cerca da luta feminista? A resposta é aumentar os debates. Não queremos ser caladas e nem oprimidas. Queremos ter direitos e liberdade, sem ter medo de ninguém. Quem decide o nosso destino e o que faremos somos nós mesmas. Vamos se tornar uma única voz e ir para frente de todos batalhar por um mundo igualitário, sem machismo e preconceitos.


            
           
Aceite essa rosa

Débora Mestre

“Aceite essa rosa, aceite esse bombom. Mas aproveite que é só por hoje; amanhã a misoginia tem que continuar”.
Essa sempre foi minha crítica e minha visão geral sobre o 8 de Março. Nunca passou de uma hipocrisia, e com vieses capitalistas, pra deixar o caso ainda mais triste e revoltante. Ter um dia no calendário nunca me agradou - é o atestado de desigualdade para qualquer minoria ou escória social. Um dia, entre os 365 do ano, reservado para que a magnânima elite masculina cis heteronormativa e branca se lembre de que existe algo além de suas fortalezas fálicas regadas de testosterona.
Sim, o “Dia da mulher” traça um paralelo com todos os outros dias tão generosamente concedidos pela elite, como o Dia da Consciência Negra, o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, pra citar só alguns. Não existe e nem pode existir um “dia do homem” ou “dia do orgulho hétero” com pretensões de se atingir igualdade, por que ter um dia, por si só, já é um sinônimo de desigualdade gritante.
Partindo desse princípio, começo a enxergar o lado positivo (tênue, fantasmagórico, quase inexistente, mas positivo) do 8 de Março. É a elite patriarcal assumindo que existe injustiça. Assume, de seu modo tosco e displicente, ao homenagear a mulher, os negros, a população LGBT etc etc, que não é fácil viver em nosso modelo de sociedade carregando o fardo de não fazer parte do grupo privilegiado.

Já que é assim, já que fatalmente a injustiça vigora e essas datas existem, usemo-las com sabedoria. Para mostrar que estamos aqui e não estamos resignados a esse destino marginalizado que nos é imposto há tantos séculos. A luta deve ser diária, constante; irritemos e desconstruamos nossos opressores até que seus preconceitos sejam diluídos e esquecidos. Viva ao orgulho dos oprimidos, viva ao grito de sobrevivência! Continuamos aqui a despeito de tudo que nos fizeram e estamos cada vez mais fortes!


Resistência 

Thais Rodrigues

Quanto mais me oprimem mais subversiva me torno
Sua repressão não me para
Nossa luta não é de hoje, carregamos o sangue de muitxs.
Nós não costumamos aparecer nos livros
De loucas a desqualificadas
De tudo já fomos chamadas
Campo de concentração, hospício, prisão
Nada disso cala nossa voz:

_ Não! Não! Não! Não passarão!

Um ode a desobediência

Renata Vieira

Embora me seja muito desconfortável ter que precisar de um dia que simbolize a luta pela igualdade entre homens e mulheres, acho que a ode hoje vai para as desobedientes.
Às que disseram não ao namorado que ousou ter alguma autoridade sobre a roupa que vestem, sobre os lugares em que andam e a que horas passeiam sozinhas. Às que disseram não aos sem-noção das "cantadas" de rua, que não passam de ofensas gratuitas. Às que disseram não às gentilezas sexistas que falsamente se pretendem gentis mas apenas nos colocam num lugar menor por sermos mulheres. Às que disseram não ao chefe engraçadinho que olha pros seus peitos em vez de olhar para o seu doutorado. Às que disseram não aos "amigos" que classificam as mulheres entre putas e "pra casar" mas não vêem problema nenhum na liberdade sexual masculina. Às que disseram não ao grito e à força física masculina como forma de opressão. Às que disseram não à tia que insiste em perguntar cadê o seu namorado mas esquece de suas conquistas acadêmicas. Às que disseram não aos que dizem que há trabalho de homem e trabalho de mulher, metem a mão e consertam o encanamento (podem contratar meus serviços, sou boa nisso!). Às que disseram não à tantas estruturas tidas como "normais" mas que foram construídas sobre uma perspectiva paternalista e machista de mundo.
Hoje é mais um dia para explicarmos (ou quer que eu desenhe?) que feminismo não é radicalismo e muito menos o oposto de machismo. É a luta diária pela libertação das mulheres que, sem escolha, já nascem encaixadas em padrões sexistas de mundo. Enfim, entendam isso. É o melhor presente que podem dar às suas mães, irmãs, filhas, sobrinhas, todas as mulheres que te rodeiam.

Uma ode às desobedientes!


Por um dia da mulher interseccional

Flavia Ginzel


Nós, mulheres, ganhamos menos do que os homens.
Os postos de trabalhos mais precarizados, são ocupados por mulheres.
Segundo o Ministério da Saúde, o aborto é a quinta maior causa de morte materna no Brasil.
De acordo com dados do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o número de negras mortas em decorrência de um aborto é 2,5 maior em relação às brancas.
Dados do relatárorio da ONG internacional Transgender Europe de 2014, mostram que Brasil é o país onde ocorre o maior número de mortes de mulheres travestis e transexuais no mundo.
Cerca de 6% das vítimas de violência sexual, são mulheres lésbicas. Estas mulheres são vítimas de um crime denominado "estupro corretivo", que tem como objetivo punir a mulher lésbica pela sua orientação sexual.
Enquanto mulheres, somos todas oprimidas. Mas negras, trans e lésbicas morrem mais.

Neste sentido, convido todxs a refletir sobre privilégios e lutar por um feminismo que represente as mulheres trabalhadoras, negras, travestis e transexuais, lésbicas; enfim, todas as mulheres que são oprimidas e exploradas pelo sistema capitalista e patriarcal em que vivemos.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Crise da masculinidade!?


O ser hegemônico está começando, bem lentamente, a cair. Exatamente meu amigx, o masculino está em crise, e tem muita gente preocupada como isso. O que faremos após o fim do ser másculo, símbolo do padrão social? O que vocês farão eu não sei, eu soltarei fogos! Comemorarei alegremente a morte desse elemento que só tem causado estragos na sociedade. O masculino que se vá e já vai tarde, em minha opinião.
Isso quer dizer que não haverá mais homens, parrudos e peludos em nosso meio? Se acalme caçador de ursos, não vamos nos desesperar, o que está em crise não são os modelos de gêneros, ou os modos de comportamentos, ou de identificação. O que está em crise é o sistema de poder do “sujeito masculino”, não as diversas manifestações e possibilidades da vida.
O que está em crise é o papel do masculino na sociedade, pois esse só se mantinha quando o feminino estava bem estabelecido, mas o feminino, como símbolo da submissão já está a caminho de ser enterrado, depois de séculos de opressão das mulheres sobre a efígie de que para ser mulher tem que ser feminina, hoje existem mulheres dos mais variados tipos, a profecia de Virginia Woolf se cumpre, a rainha do lar está com seus dias contados.
Se não tem o modelo de oposição, ou melhor, se as oprimidas estão jogando o opressor de cima de suas costas, lógico que o papel de opressor vai entrar em crise. Sem escravos o feitor perde seu papel social. Isso tem feito muitos homens “masculinos” – para não dizer machistas, pois é feio chamar alguém de machista, se o faço já vão me tachar de apoiador das feminazis e gayzista – percam o rumo, o que vão fazer sem o doce privilégio de humilhar e submeter as mulheres a sua vontade?
O que está em crise de fato, não é a masculinidade, mas sim o machismo, o opressor está perdendo, lenta e vagarosamente, infelizmente, seus privilégios. O pouco que já perdeu foi motivo para criar um estardalhaço nacional, mobilizar pesquisadores e universidades para estudar o fim do macho e sua representação, mas o que de fato se estuda é o fim do poder do machista e como isso, olha só, tem afetado a estima do coitado.

Mas caros seres em desespero se acalmem, pois para infelicidade do mundo, tem muita água para correr ainda antes que esse modelo de opressão se vá, o morto ainda geme, a crise ainda está em processo e dentro do barco da história, tudo pode acontecer. Só espero que tenhamos força para dar o ultimo golpe de misericórdia nesse ser que está agonizando, antes mesmo de sentir a verdadeira dor que à de vir pela frente, a dor do fim dos privilégios.