No dia internacional das mulheres, O Coletivo Mandala pública uma coletânea de textos feitos por algumas de suas integrantes e colaboradoras.
Dia Internacional da Mulher
Tatieli Escarllet
Ótimo, chegou o Dia da Mulher, o famoso e bastante discutido oito de
março. Vamos dar chocolates para nossas mulheres? Ou vamos parar e pensar nas
luta travada por elas todos os dias e principalmente nesta data oficializada
pela ONU?
Eu sou a favor de
pensar. A escolha desta foi escolhida por dois motivos. Primeiro pela proposta
feita pela Clara Zetkin em 8 de março de 1910 durante o II Congresso
Internacional de Mulheres Socialistas da criação do Dia Internacional da Mulher
e segundo pelo incêndio no dia 25 de março de 1911 em uma fábrica têxtil em
Nova Iorque onde 146 pessoas morreram, sendo 125 mulheres.
Mas não é só nesse dia
que é levantado as questões de direito, igualdade, liberdade de expressão e a
luta contra a opressão. É uma batalha diária que é travada por todas as
mulheres que não suportam mais ser caladas e oprimidas por uma cultura
machista. A voz dessas militantes que levantam a bandeira em busca de melhores
condições aos poucos sai do armário e o discurso delas é repetido por muitas
outras e até por homens que apoiam.
Anônimas estão na rua,
mas famosas também estão ai para ajudar cada vez mais mulheres se tornarem
empoderadas, ou seja, informadas sobre seus direitos e incentivar a busca por
soluções nas opressões sofridas por elas. Patricia Arquette e seu discurso no
Oscar, Beyoncé e Walesca Poposuda com suas músicas, Emma
Watson na ONU e entre outras midiáticas que estão tornando polêmico esse
levante de mulheres cada vez mais motivadas a ir às ruas.
Mas polêmica é bom?
Claro. Tudo que é polêmico, pop, contestador e que “causa” é fundamental, já
que ganha espaço para debate, provoca curiosidade e corre nas mídias. E o que
buscamos é que essa luta ganhe destaque mundial.
Então, o que faremos no
oito de março? Chocolate ou aumentar os debates a cerca da luta feminista? A
resposta é aumentar os debates. Não queremos ser caladas e nem oprimidas.
Queremos ter direitos e liberdade, sem ter medo de ninguém. Quem decide o nosso
destino e o que faremos somos nós mesmas. Vamos se tornar uma única voz e ir
para frente de todos batalhar por um mundo igualitário, sem machismo e
preconceitos.
Aceite essa rosa
Débora Mestre
“Aceite essa rosa, aceite
esse bombom. Mas aproveite que é só por hoje; amanhã a misoginia tem que
continuar”.
Essa sempre foi minha
crítica e minha visão geral sobre o 8 de Março. Nunca passou de uma hipocrisia,
e com vieses capitalistas, pra deixar o caso ainda mais triste e revoltante.
Ter um dia no calendário nunca me agradou - é o atestado de desigualdade para
qualquer minoria ou escória social. Um dia, entre os 365 do ano, reservado para
que a magnânima elite masculina cis heteronormativa e branca se lembre de que
existe algo além de suas fortalezas fálicas regadas de testosterona.
Sim, o “Dia da mulher” traça
um paralelo com todos os outros dias tão generosamente concedidos pela elite,
como o Dia da Consciência Negra, o Dia Internacional da Luta Contra a
Homofobia, pra citar só alguns. Não existe e nem pode existir um “dia do homem”
ou “dia do orgulho hétero” com pretensões de se atingir igualdade, por que ter
um dia, por si só, já é um sinônimo de desigualdade gritante.
Partindo desse princípio,
começo a enxergar o lado positivo (tênue, fantasmagórico, quase inexistente,
mas positivo) do 8 de Março. É a elite patriarcal assumindo que existe
injustiça. Assume, de seu modo tosco e displicente, ao homenagear a mulher, os
negros, a população LGBT etc etc, que não é fácil viver em nosso modelo de
sociedade carregando o fardo de não fazer parte do grupo privilegiado.
Já que é assim, já que
fatalmente a injustiça vigora e essas datas existem, usemo-las com sabedoria.
Para mostrar que estamos aqui e não estamos resignados a esse destino
marginalizado que nos é imposto há tantos séculos. A luta deve ser diária,
constante; irritemos e desconstruamos nossos opressores até que seus
preconceitos sejam diluídos e esquecidos. Viva ao orgulho dos oprimidos, viva
ao grito de sobrevivência! Continuamos aqui a despeito de tudo que nos fizeram
e estamos cada vez mais fortes!
Resistência
Thais Rodrigues
Quanto mais me oprimem mais
subversiva me torno
Sua repressão não me para
Nossa luta não é de hoje,
carregamos o sangue de muitxs.
Nós não costumamos aparecer
nos livros
De loucas a desqualificadas
De tudo já fomos chamadas
Campo de concentração,
hospício, prisão
Nada disso cala nossa voz:
_ Não! Não! Não! Não
passarão!
Um ode a desobediência
Renata Vieira
Embora me seja muito desconfortável ter que precisar de um dia
que simbolize a luta pela igualdade entre homens e mulheres, acho que a ode
hoje vai para as desobedientes.
Às que disseram não ao namorado que ousou ter alguma autoridade
sobre a roupa que vestem, sobre os lugares em que andam e a que horas passeiam
sozinhas. Às que disseram não aos sem-noção das "cantadas" de rua,
que não passam de ofensas gratuitas. Às que disseram não às gentilezas sexistas
que falsamente se pretendem gentis mas apenas nos colocam num lugar menor por
sermos mulheres. Às que disseram não ao chefe engraçadinho que olha pros seus
peitos em vez de olhar para o seu doutorado. Às que disseram não aos
"amigos" que classificam as mulheres entre putas e "pra
casar" mas não vêem problema nenhum na liberdade sexual masculina. Às que
disseram não ao grito e à força física masculina como forma de opressão. Às que
disseram não à tia que insiste em perguntar cadê o seu namorado mas esquece de
suas conquistas acadêmicas. Às que disseram não aos que dizem que há trabalho
de homem e trabalho de mulher, metem a mão e consertam o encanamento (podem
contratar meus serviços, sou boa nisso!). Às que disseram não à tantas
estruturas tidas como "normais" mas que foram construídas sobre uma
perspectiva paternalista e machista de mundo.
Hoje é mais um dia para explicarmos (ou quer que eu desenhe?)
que feminismo não é radicalismo e muito menos o oposto de machismo. É a luta
diária pela libertação das mulheres que, sem escolha, já nascem encaixadas em
padrões sexistas de mundo. Enfim, entendam isso. É o melhor presente que podem
dar às suas mães, irmãs, filhas, sobrinhas, todas as mulheres que te rodeiam.
Uma ode às desobedientes!
Por um dia da mulher interseccional
Flavia Ginzel
Nós, mulheres, ganhamos menos do que os homens.
Os postos de trabalhos mais precarizados, são ocupados por mulheres.
Segundo o Ministério da Saúde, o aborto é a quinta maior causa de
morte materna no Brasil.
De acordo com dados do Instituto de Medicina Social da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, o número de negras mortas em decorrência de um
aborto é 2,5 maior em relação às brancas.
Dados do relatárorio da ONG internacional Transgender Europe de 2014,
mostram que Brasil é o país onde ocorre o maior número de mortes de mulheres
travestis e transexuais no mundo.
Cerca de 6% das vítimas de violência sexual, são mulheres lésbicas.
Estas mulheres são vítimas de um crime denominado "estupro
corretivo", que tem como objetivo punir a mulher lésbica pela sua
orientação sexual.
Enquanto mulheres, somos todas oprimidas. Mas negras, trans e lésbicas
morrem mais.
Neste sentido, convido todxs a refletir sobre privilégios e lutar por
um feminismo que represente as mulheres trabalhadoras, negras, travestis e
transexuais, lésbicas; enfim, todas as mulheres que são oprimidas e exploradas
pelo sistema capitalista e patriarcal em que vivemos.
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