Uma
das perguntas mais recorrentes que tenho que responder sobre as minhas
pesquisas, trabalho com gênero, sexualidade e identidade voltada para o público
lésbico, o que me motiva a pesquisar lésbicas? A resposta é ao mesmo tempo
simples e complicada, por um incomodo do vazio. Quando comecei a fazer
levantamento de dados para montar um projeto de pesquisa no ano de 2011, ainda
sem intenção de realizar a pesquisa em si, mas para uma disciplina, algo me
chamou muito minha atenção, existiam várias pesquisas debatendo sexualidade,
todas voltadas para o público masculino, mesmo quando no título tinha o “LGBT”,
o enfoque era nos homens gays.
Isso
em um primeiro momento me causou só uma estranheza, quando começo a participar
dos grupos de estudos feministas em 2012, percebo que a invisibilidade das
lésbicas vai para muito além da questão da sexualidade, elas perpassa uma
questão de gênero, são invisibilizadas por que a sociedade não olha para a
questão da sexualidade da mulher e quando olha é numa perspectiva
patologizante. Ao perceber isso sofri um incomodo incontrolável, que me levou
então a iniciar o trabalho pesquisando a identidade lésbica.
Porém,
se as mulheres lésbicas fossem invisíveis só na acadêmia, acho que meu incomodo
não seria tão grande, mas ao olhar o histórico do movimento LGBT, as mulheres
lésbicas são invisibilizadas o tempo todo. No coletivo Somos, um dos primeiros
grupos de militância pelos direitos LGBTs, as mulheres demoraram muito para
ingressar, quando entraram sofreram com o machismo e preconceito existente
dentro do coletivo, criando então um grupo militante lésbico. Dentro do
movimento feminista, por muitos anos, as mulheres lésbicas também foram
invisibilizadas, havendo vários relatos em que as outras militantes diziam:
“podem participar, mas não falem de sua sexualidade”.
Quando
debatemos sexualidade, as mulheres não são vistas como seres sexuais, que
sentem desejo, prazer e tem orgasmos, pois esses “defeitos” são das “putas”,
“vadias” e “promiscuas” seres que não são mulheres, muito menos humanos, mas
meros objetos para os prazeres masculinos. Deste modo, discutir as relações
afetivas e sexuais entre dois seres que não tem sexualidade, é desnecessário,
pois se tiver sexualidade, são seres impuros que não devem ter espaço dentro do
meio social.
Se
faz necessário neste momento ter muito orgulho de ser lésbica, de pôr a cara no
sol, de enfrentar as adversidades, pois o movimento LGBT e o feminista devem
muito a elas, que mobilizaram as primeiras paradas LGBTs, que cuidaram dos
homossexuais durante a epidemia AIDS, que lutaram pela liberdade sexual das
mulheres, que ao colocar sua sexualidade em pauta, subverteram os valores
sociais e colaboraram na luta pela liberdade sexual como um todo. Uma das
frases que mais encontrei em minha pesquisa em blogs voltado para o público
lésbico é que não tem nada mais revolucionário que o amor lésbico, pois tem a
potência de deixar para as esferas de poder patriarcais que não precisa dela
para existir, tenho que admitir, amor lésbico é revolucionário, revolucionou
até meu modo de ver e estar no mundo.
Obrigado
a todas as lésbicas e vamos juntos na luta!
D.C.R.