Muitas pessoas pensam que a saída do
armário é um ato individual, uma pessoa que tem uma sexualidade que não é a
heterossexual, resolve tornar público algo que pertence ao âmbito privado.
Acreditasse muitas vezes que a saída do armário é uma escolha, ou algo que deve
ser tratado e pensado única e exclusivamente pelo indivíduo. A questão que a
saída do armário não é só exteriorizar, ou tornar público, algo que é do
privado, mas reafirma as questões que envolvem a vida privada também são
questões políticas, ou seja, tangem a vida pública, perpassando as relações
coletivas que mantemos.
Sair do armário então não é algo precisa
ser solitário, ou seja, sem apoio de outras pessoas que passaram ou ainda
passam pela situação de se assumir dentro de determinados segmentos sociais. A
saída solitária pode ser muito dolorosa, tendo em vista que muitas vezes faltam
exemplos de representatividade para os não-heterossexuais, o que vemos
constantemente na mídia são papéis estereotipados, que não representam de fato
a realidade e a diversidade existente.
Partindo desse ponto, o fato de estar
dentro de um coletivo, seja o Mandala, ou junto com um grupo de amigos que lhe
entenda e lhe auxilie no processo é sempre positivo, pois estando em contato
com outras pessoas, percebe-se a diversidade existente entre os homossexuais,
bissexuais e transsexuais, o que permite um melhor entendimento do que sentimos
e passamos e um maior reconhecimento de uma “identidade” que nos ajudará a
dialogar com nossos desejos.
Além da diversidade representativa,
estar com um grupo de pessoas que te ouça, que compartilha a mesma experiência
e vivência que passou por situações tão complicadas ou às vezes mais
complicadas que a nossa, nos dá um redimensionamento do processo de
autoaceitação e afirmação de nossos desejos e expressões de gênero. Um filósofo
que gosto muito, Spinoza, vai falar que a ação no coletivo aumenta nossa
vontade de viver, nos fortalece e nos permite ir além do que conseguiríamos
sozinhos, pois o ser humano é um ser social que se constrói, modifica e
potencializa pelos encontros que tem com o outro. Sendo assim, o coletivo serve
como base para aumentar a nossa potência existencial e nos dá força e apoio no
processo de se aceitar e assumir.
Pensando que a saída do armário é um
processo social, implicado no coletivo, nas relações que construímos e nas
bases afetivas que criamos, o Coletivo Mandala tem como base de ação a união e
a potência pelo afeto, ou seja, na criação de um campo de convívio no qual
possamos trocar experiências, fortalecer os vínculos. Demonstrando assim, que
ser homo/bissexual, transsexual, assexual, não binário, queer, ou qualquer
“coisa” que não se encaixe nos padrões estabelecidos, não é motivo de vergonha
ou medo, mas sim de orgulho, pois simbolizamos a diversidade do ser
humano, as potencialidades da existência, as infinitas formas dos afetos e
desejos, ser “estranho”, não é uma ofensa, mas sim um orgulho, pois não nos
dobramos diante das tradições impostas, mas assumimos nossa estranheza coletiva
para abraçarmos a felicidade de uma existência plena.
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