sexta-feira, 5 de junho de 2015

O Coletivo e o Armário


Muitas pessoas pensam que a saída do armário é um ato individual, uma pessoa que tem uma sexualidade que não é a heterossexual, resolve tornar público algo que pertence ao âmbito privado. Acreditasse muitas vezes que a saída do armário é uma escolha, ou algo que deve ser tratado e pensado única e exclusivamente pelo indivíduo. A questão que a saída do armário não é só exteriorizar, ou tornar público, algo que é do privado, mas reafirma as questões que envolvem a vida privada também são questões políticas, ou seja, tangem a vida pública, perpassando as relações coletivas que mantemos.
Sair do armário então não é algo precisa ser solitário, ou seja, sem apoio de outras pessoas que passaram ou ainda passam pela situação de se assumir dentro de determinados segmentos sociais. A saída solitária pode ser muito dolorosa, tendo em vista que muitas vezes faltam exemplos de representatividade para os não-heterossexuais, o que vemos constantemente na mídia são papéis estereotipados, que não representam de fato a realidade e a diversidade existente.
Partindo desse ponto, o fato de estar dentro de um coletivo, seja o Mandala, ou junto com um grupo de amigos que lhe entenda e lhe auxilie no processo é sempre positivo, pois estando em contato com outras pessoas, percebe-se a diversidade existente entre os homossexuais, bissexuais e transsexuais, o que permite um melhor entendimento do que sentimos e passamos e um maior reconhecimento de uma “identidade” que nos ajudará a dialogar com nossos desejos.
Além da diversidade representativa, estar com um grupo de pessoas que te ouça, que compartilha a mesma experiência e vivência que passou por situações tão complicadas ou às vezes mais complicadas que a nossa, nos dá um redimensionamento do processo de autoaceitação e afirmação de nossos desejos e expressões de gênero. Um filósofo que gosto muito, Spinoza, vai falar que a ação no coletivo aumenta nossa vontade de viver, nos fortalece e nos permite ir além do que conseguiríamos sozinhos, pois o ser humano é um ser social que se constrói, modifica e potencializa pelos encontros que tem com o outro. Sendo assim, o coletivo serve como base para aumentar a nossa potência existencial e nos dá força e apoio no processo de se aceitar e assumir.

Pensando que a saída do armário é um processo social, implicado no coletivo, nas relações que construímos e nas bases afetivas que criamos, o Coletivo Mandala tem como base de ação a união e a potência pelo afeto, ou seja, na criação de um campo de convívio no qual possamos trocar experiências, fortalecer os vínculos. Demonstrando assim, que ser homo/bissexual, transsexual, assexual, não binário, queer, ou qualquer “coisa” que não se encaixe nos padrões estabelecidos, não é motivo de vergonha ou medo, mas sim de orgulho, pois simbolizamos a diversidade do ser humano, as potencialidades da existência, as infinitas formas dos afetos e desejos, ser “estranho”, não é uma ofensa, mas sim um orgulho, pois não nos dobramos diante das tradições impostas, mas assumimos nossa estranheza coletiva para abraçarmos a felicidade de uma existência plena.

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