terça-feira, 14 de julho de 2015

Sorocaba tem orgulho de mim?




Hoje fui ao shopping encontrar com um rapaz com quem já fiquei uma vez, comemos, conversamos, rimos, contei para ele os meus planos e ele os planos dele para mim, nos despedimos e fomos embora. Ao virar as costas para ele me perguntei o porquê não o tinha beijado, eu queria, ele queria, porque não nos beijamos? Qual o mal de um beijo entre duas pessoas em shopping?
Isso me incomoda profundamente, pois não tem placa, lei ou determinação legal que impeça eu de beijar uma pessoa em público, já beijei várias meninas, mas não consegui beijar o rapaz. São as boas e velhas regras não ditas e já internalizadas. Não se precisa dizer, por placas ou anunciar, shopping não é lugar para homossexuais, é local de família, no máximo no cinema, no escuro e escondido, em algum filme que não tenha possibilidade de ter crianças é que você pode beijar, contanto que ninguém se sinta incomodado, ninguém perceba e volte ao comportamento “padrão” após o filme.
Se já beijei em local público, sim, nesse mesmo shopping um dia após o cinema, mas o que me levou a não beijar novamente, a interdição dos corpos nos discursos não pronunciados. Não precisava dizer, eu sabia, ele sabia e todas ao nosso lado sabiam se homossexuais quiserem frequentar tem que se “comportar”. Escrevo como um ato de reflexão, como um ato de libertação, para na próxima vez eu não ter medo/vergonha de beijar, aquele espaço, assim como todos os outros existentes na cidade, também são espaços para minha sociabilidade. Se qualquer casal pode beijar lá, eu também posso.
Isso me faz pensar que muitas vezes as coisas não mudam porque não estamos dispostos a comprar certas brigas, de ocupar de forma tranquila, com naturalidade, os espaços que são nossos, de andar de mãos dadas no shopping, de beijar em publico, de trocar afetos em um restaurante, o que nós impede de fazer isso? O modo que nós amamos? Mas são os nossos afetos que nos levam a fazer isso, independente de qual seja o sentido dele, hetero ou homo.

Precisamos ter orgulho dos nossos afetos, de amar, de ser feliz, se Sorocaba tem orgulho de mim? Não sei, eu tenho orgulho da não viver mais no armário, de pode demonstrar os meus afetos, com esse orgulho vou quebrando aos poucos as barreiras sociais e pessoais que muitas vezes o impedem de ser mais espontâneos, mas meu orgulho de ser quem sou um gay, militante, feminista, negro e imponderado.

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